Entrevista - Nelson Dácio Tomazi





Ótima entrevista do autor Nelson Dácio Tomazi, comentando sobre a Sociologia no Ensino Médio.



 


Nelson Tomazi possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (1972) e é doutor em História, pela mesma Universidade (1996). Atualmente, é professor aposentado, dedicando-se a escever e implementar ações que visem a efetiva implantação, com qualididade, da sociologia no ensino médio. Seu livro mais recente é “Sociologia para o ensino Médio”, da Atual Editora.

Revista Inter-Legere: Professor, fale-nos sobre como e por que decidiu entrar na seara das ciências sociais

Nelson Tomazi: Apesar do golpe militar de 1964, em meados da década de 1960 a questão educacional era muito discutida nacionalmente e uma outra alternativa era desenvolver alguma atividade que pudesse estar fazendo alguma coisa para melhorar este país. A opção pelas ciências sociais era um dos caminhos. Como tinha realizado o ensino médio que dava uma melhor orientação para a área de humanas, resolvi decidir por este curso pois afinal ele apontava para uma formação que possibilitava uma melhor compreensão da realidade brasileira e mundial da época. Apesar do recrudescimento da ditadura a partir de dezembro de 1968, com o AI-5, fiz o vestibular e no início de 1969 iniciei o curso, terminando-o em 1972. Foi uma bela opção e que procuro desenvolve-la desde então.

Revista Inter-Legere: Em que momento de sua formação o senhor decidiu discutir o ensino da sociologia? Necessariamente discute o ensino da sociologia no ensino médio?

Nelson Tomazi: Como disse acima, a questão educacional sempre esteve presente em minha formação, e assim em 1973 já me tornava um professor de universidade. Desde então a questão do ensino de sociologia era tema constante, na medida em que ser professor, desde então, significava problematizar este ofício em todos os momentos.
Ensinar alunos que seriam professores de sociologia estava presente, mas principalmente passou a ser uma preocupação maior quando na década de 1980, a sociologia aparecia aqui e ali, sempre tendo um pequeno espaço. Mas a virada aconteceu quando em 1991 fui convidado pela Ed. Atual para fazer para fazer um livro de Sociologia para o ensino médio.
Reuni –me com outros cinco colegas de trabalho e fizemos o livro Iniciação à sociologia,que foi publicado em 1993. Desde então passei dedicar mais tempo para esta área, aliando a preocupação anterior com esta nova, ou seja, discutindo questões que envolviam tanto a formação de professores de sociologia como também as formas de atuar no ensino médio de modo a desenvolver a capacidade de pensar sociologicamente dos jovens.

Revista Inter-Legere: Como compatibilizar o ensino da sociologia no ensino médio e o seu conteúdo, às vezes exclusivamente acadêmico?

Nelson Tomazi: Ensinar sociologia no ensino médio é uma tarefa muito difícil, pois implica ensinar jovens a pensar sociologicamente as questões que envolvem o seu cotidiano.
Aqueles professores que pensam em reproduzir o que aprenderam na universidade, somente causam um grande problema para o desenvolvimento desta disciplina no ensino médio. Estes muitas vezes reproduzem um conteúdo exclusivamente acadêmico, porque ou não possuem uma formação adequada para esta tarefa, ou não querem ser professores para este nível. Para ser um professor no ensino médio é necessário fazer a mediação entre o saber acadêmico recebido e o conhecimento dos jovens que ele encontra nas escolas, que são muito diversas. Portanto não há uma receita fixa, mas sim uma disposição intelectual de analisar as possibilidade que encontra e aí desenvolver as tarefas de um professor, que é ensinar de tal modo que os jovens possam ter uma visão mais profunda e precisa do mundo em que vivem.


Revista Inter-Legere: Há algum ponto de encontro entre o exercício do ensino universitário e o ensino médio? Qual papel teria a extensão, nesse sentido?

Nelson Tomazi: Como afirmei acima, ensinar é um ofício que sempre envolve a mediação a partir do conhecimento do professor e do conhecimento dos alunos. Quando se ensina na universidade parte-se do pressuposto, principalmente nas licenciaturas, mas não só, que os alunos poderão um dia ser também professores, não só no ensino médio como também no superior. Portanto, há sempre uma relação muito grande, pois o ensino não tem apenas uma direção. As possibilidades de ensino são múltiplas e não somente no sistema escolar das escolas. Pode-se ensinar em empresas, nas prisões, nos hospitais, nos sindicatos, nos movimentos sociais, nas ONG´s, etc... Onde há extensão universitária ela somente vem somar para que esta tarefa educativa se amplie tanto para o jovem universitário como para as populações atingidas por esta ação.

Revista Inter-Legere: E quanto fazer pesquisa? O senhor acredita numa integração entre a academia e o ensino médio?

Nelson Tomazi: A pesquisa não é uma coisa isolada do ensino. Para se ensinar é necessário pesquisar, desde as questões mais simples até as grandes teorias. A pesquisa é o fundamento do ensino em todos os níveis. Um professor que não pesquisa (conhece) a escola em que trabalha, não exerce o ofício de sociólogo que é conhecer o mundo em que vive, seja o universo próximo ou distante, mas amplo. Assim com a extensão a pesquisa é um pressuposto e também uma forma de ensinar. Quando escrevemos as OCN´s- Sociologia deixamos isso muito claro. Neste sentido é fundamental a integração entre os dois níveis de ensino, pois assim os dois ganham em experiência e pesquisa. Só não há integração quando não há interesse de um dos lados. E isso normalmente ocorre com o mundo acadêmico, pois está olhando demasiadamente para o seu umbigo.

Revista Inter-Legere: Por fim, professor, como fazer com que se desperte o interesse do aluno do ensino médio para o estudo da sociologia sem fazer desta disciplina um instrumento milenarista? Ou seja, como chamar a atenção para a crítica da realidade social sem fazer desta crítica uma panacéia, a resposta para todos os problemas?

Nelson Tomazi: A sociologia é uma ciência e uma disciplina e como tal se propõe ser mais um saber que pode desenvolver nos jovens uma perspectiva crítica sobre a sua vida e a vida social existente. Muita gente pensa que a sociologia deve ser militante e até ser uma ciência/disciplina transformadora. Estes esqueceram a historicidade da sociologia e o que ela é efetivamente. Ela nunca se propôs ser transformadora. Ela pode ter uma perspectiva de desenvolver uma visão crítica da realidade social. Mas esta é uma de suas vertentes e não a única. Ã sociologia tem uma diversidade muito grande e talvez, por isso, é que ela está sempre em discussão, pois as múltiplas possibilidades de se abordar uma questão lhe dá uma condição de sempre questionar e ser questionada. Esta é a sua vitalidade. Nada pode ser reduzido a uma única visão e perspectiva. Não há teoria sociológica que consiga explicar toda a realidade social. Por isso, o conhecimento de muitas teorias e perspectivas é fundamental para se formar um bom sociólogo e professor de sociologia.



Nelson Tomazi possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (1972) e é doutor em História, pela mesma Universidade (1996). Atualmente, é professor aposentado, dedicando-se a escever e implementar ações que visem a efetiva implantação, com qualididade, da sociologia no ensino médio. Seu livro mais recente é “Sociologia para o ensino Médio”, da Atual Editora.

Revista Inter-Legere: Professor, fale-nos sobre como e por que decidiu entrar na seara das ciências sociais

Nelson Tomazi: Apesar do golpe militar de 1964, em meados da década de 1960 a questão educacional era muito discutida nacionalmente e uma outra alternativa era desenvolver alguma atividade que pudesse estar fazendo alguma coisa para melhorar este país. A opção pelas ciências sociais era um dos caminhos. Como tinha realizado o ensino médio que dava uma melhor orientação para a área de humanas, resolvi decidir por este curso pois afinal ele apontava para uma formação que possibilitava uma melhor compreensão da realidade brasileira e mundial da época. Apesar do recrudescimento da ditadura a partir de dezembro de 1968, com o AI-5, fiz o vestibular e no início de 1969 iniciei o curso, terminando-o em 1972. Foi uma bela opção e que procuro desenvolve-la desde então.

Revista Inter-Legere: Em que momento de sua formação o senhor decidiu discutir o ensino da sociologia? Necessariamente discute o ensino da sociologia no ensino médio?

Nelson Tomazi: Como disse acima, a questão educacional sempre esteve presente em minha formação, e assim em 1973 já me tornava um professor de universidade. Desde então a questão do ensino de sociologia era tema constante, na medida em que ser professor, desde então, significava problematizar este ofício em todos os momentos.
Ensinar alunos que seriam professores de sociologia estava presente, mas principalmente passou a ser uma preocupação maior quando na década de 1980, a sociologia aparecia aqui e ali, sempre tendo um pequeno espaço. Mas a virada aconteceu quando em 1991 fui convidado pela Ed. Atual para fazer para fazer um livro de Sociologia para o ensino médio.
Reuni –me com outros cinco colegas de trabalho e fizemos o livro Iniciação à sociologia,que foi publicado em 1993. Desde então passei dedicar mais tempo para esta área, aliando a preocupação anterior com esta nova, ou seja, discutindo questões que envolviam tanto a formação de professores de sociologia como também as formas de atuar no ensino médio de modo a desenvolver a capacidade de pensar sociologicamente dos jovens.

Revista Inter-Legere: Como compatibilizar o ensino da sociologia no ensino médio e o seu conteúdo, às vezes exclusivamente acadêmico?

Nelson Tomazi: Ensinar sociologia no ensino médio é uma tarefa muito difícil, pois implica ensinar jovens a pensar sociologicamente as questões que envolvem o seu cotidiano.
Aqueles professores que pensam em reproduzir o que aprenderam na universidade, somente causam um grande problema para o desenvolvimento desta disciplina no ensino médio. Estes muitas vezes reproduzem um conteúdo exclusivamente acadêmico, porque ou não possuem uma formação adequada para esta tarefa, ou não querem ser professores para este nível. Para ser um professor no ensino médio é necessário fazer a mediação entre o saber acadêmico recebido e o conhecimento dos jovens que ele encontra nas escolas, que são muito diversas. Portanto não há uma receita fixa, mas sim uma disposição intelectual de analisar as possibilidade que encontra e aí desenvolver as tarefas de um professor, que é ensinar de tal modo que os jovens possam ter uma visão mais profunda e precisa do mundo em que vivem.


Revista Inter-Legere: Há algum ponto de encontro entre o exercício do ensino universitário e o ensino médio? Qual papel teria a extensão, nesse sentido?

Nelson Tomazi: Como afirmei acima, ensinar é um ofício que sempre envolve a mediação a partir do conhecimento do professor e do conhecimento dos alunos. Quando se ensina na universidade parte-se do pressuposto, principalmente nas licenciaturas, mas não só, que os alunos poderão um dia ser também professores, não só no ensino médio como também no superior. Portanto, há sempre uma relação muito grande, pois o ensino não tem apenas uma direção. As possibilidades de ensino são múltiplas e não somente no sistema escolar das escolas. Pode-se ensinar em empresas, nas prisões, nos hospitais, nos sindicatos, nos movimentos sociais, nas ONG´s, etc... Onde há extensão universitária ela somente vem somar para que esta tarefa educativa se amplie tanto para o jovem universitário como para as populações atingidas por esta ação.

Revista Inter-Legere: E quanto fazer pesquisa? O senhor acredita numa integração entre a academia e o ensino médio?

Nelson Tomazi: A pesquisa não é uma coisa isolada do ensino. Para se ensinar é necessário pesquisar, desde as questões mais simples até as grandes teorias. A pesquisa é o fundamento do ensino em todos os níveis. Um professor que não pesquisa (conhece) a escola em que trabalha, não exerce o ofício de sociólogo que é conhecer o mundo em que vive, seja o universo próximo ou distante, mas amplo. Assim com a extensão a pesquisa é um pressuposto e também uma forma de ensinar. Quando escrevemos as OCN´s- Sociologia deixamos isso muito claro. Neste sentido é fundamental a integração entre os dois níveis de ensino, pois assim os dois ganham em experiência e pesquisa. Só não há integração quando não há interesse de um dos lados. E isso normalmente ocorre com o mundo acadêmico, pois está olhando demasiadamente para o seu umbigo.

Revista Inter-Legere: Por fim, professor, como fazer com que se desperte o interesse do aluno do ensino médio para o estudo da sociologia sem fazer desta disciplina um instrumento milenarista? Ou seja, como chamar a atenção para a crítica da realidade social sem fazer desta crítica uma panacéia, a resposta para todos os problemas?

Nelson Tomazi: A sociologia é uma ciência e uma disciplina e como tal se propõe ser mais um saber que pode desenvolver nos jovens uma perspectiva crítica sobre a sua vida e a vida social existente. Muita gente pensa que a sociologia deve ser militante e até ser uma ciência/disciplina transformadora. Estes esqueceram a historicidade da sociologia e o que ela é efetivamente. Ela nunca se propôs ser transformadora. Ela pode ter uma perspectiva de desenvolver uma visão crítica da realidade social. Mas esta é uma de suas vertentes e não a única. Ã sociologia tem uma diversidade muito grande e talvez, por isso, é que ela está sempre em discussão, pois as múltiplas possibilidades de se abordar uma questão lhe dá uma condição de sempre questionar e ser questionada. Esta é a sua vitalidade. Nada pode ser reduzido a uma única visão e perspectiva. Não há teoria sociológica que consiga explicar toda a realidade social. Por isso, o conhecimento de muitas teorias e perspectivas é fundamental para se formar um bom sociólogo e professor de sociologia.

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