Karl Popper - A história tem alguma significação ?


Todas as descrições científicas de fatos são altamente seletivas, sempre dependentes de teorias. Dadas a infinita riqueza e a variedade dos possíveis aspectos de nosso mundo, uma descrição científica dependerá em larga medida de nosso ponto de vista, de nossos interesses, que são como uma regra relacionada com a teoria ou hipótese que desejamos testar; mas também dependerá dos fatos descritos. Procuramos formular nosso ponto de vista como uma hipótese operacional, ou seja, uma suposição provisória cuja função é auxiliar-nos a selecionar e ordenar os fatos – não pode haver nenhuma teoria que não seja uma hipótese operacional.
Isso é mais enfaticamente verdadeiro no caso da descrição histórica, com seu “infinito tema de estudo”, no dizer de Schopenhauer. Na história, não menos que na ciência, não podemos esquivar-nos a um ponto de vista, e a crença de que pudéssemos fazê-lo nos levaria ao auto-engano e à falta de cuidado crítico.
A história difere da física, cujo “ponto de vista” é habitualmente apresentado como uma teoria que pode ser corroborada pela busca de fatos novos. Nas ciências naturais as teorias podem ser utilizadas para explicar, prever ou corroborar, dependendo de nosso interesse – tendo em mente que nunca podemos falar de causa e efeito de modo absoluto, mas sempre com relação a alguma lei universal; predizer certo evento específico é apenas outro aspecto do uso de uma teoria para explicar o evento; e corroborar significa comparar os eventos preditos com os efetivamente observados.
No caso das ciências teóricas (ciências generalizadoras) – a física, a biologia, a sociologia, etc. – estamos interessados principalmente em falsificar ou corroborar leis ou hipóteses universais. Se desejamos saber se são verdadeiras adotamos o método de eliminar as falsas. No caso das ciências aplicadas nosso interesse é diferente: as leis universais são meios para um fim, e são tomadas como um dado.
Os que se interessam por leis universais devem utilizar leis generalizadoras (por exemplo, a sociologia): elas introduzem unidade e um “ponto de vista”; criam seus problemas e seus centros de interesse e pesquisa, de construção lógica e de apresentação. As ciências voltadas a explicar eventos específicos são chamadas ciências históricas. De nosso ponto de vista não pode haver leis históricas. Na história não temos teorias unificadoras – a multidão de leis universais que utilizamos são tomadas como dadas; são praticamente destituídas de interesse e totalmente incapazes de introduzir ordem no tema de estudo. As leis universais que a explicação histórica utiliza não fornecem qualquer princípio seletivo e unificador, nenhum “ponto de vista”. Na história, os fatos à nossa disposição são muitas vezes limitados, não podem ser repetidos e foram coletados de acordo com um determinado ponto de vista. Como não se dispõe de fatos novos, em geral não é possível pôr à prova esta ou aquela teoria. Por essas razões, denomino interpretações gerais essas teorias históricas, em contraposição às teorias científicas.
Uma interpretação geral não pode ser corroborada, mesmo que se conforme com todos os dados disponíveis – não somente o processo é circular, como o mesmo conjunto de fatos pode ser consistente com teorias incompatíveis.
Em suma, não pode haver história “do passado como efetivamente ocorreu”, mas apenas interpretações históricas, nenhuma delas definitiva. Em vez de reconhecer que a interpretação histórica deve responder a uma necessidade que tem origem nos problemas práticos e nas decisões que nos confrontam, o historicista contempla a história para descobrir o segredo, a essência do destino humano, o Significado da História.
A história humana não tem qualquer significado. Não há uma história da humanidade em si, mas uma infinidade de histórias de todas as espécies de aspectos da vida; somadas, não constituem uma história da humanidade. Afirmar que a história não tem significado, contudo, não quer dizer que devamos limitar-nos a olhar atônitos para a história do poder político. Podemos interpretá-la, para resolver os problemas do poder político de nossa época. Podemos interpretar a história do poder político do ponto de vista de nossa luta pela sociedade aberta, por um regime da razão, pela justiça, igualdade e liberdade. Embora a história não tenha finalidade, podemos impor-lhe essas finalidades – embora a história não tenha significado, podemos dar-lhe um significado.

Origem do artigo :
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A filosofia de Popper


Karl Popper (Viena28 de Julho de 1902 — Londres17 de Setembro de 1994) foi um filósofo da ciência austríaco naturalizado britânico. É considerado por muitos como o filósofo mais influente do século XX a tematizar a ciência [1]. Foi também um filósofo social e político de estatura considerável, um grande defensor da democracia liberal e um oponente implacável do totalitarismo.
Ele é talvez mais bem conhecido pela sua defesa do falsificacionismo como um critério da demarcação entre a ciência e a não-ciência, e pela sua defesa da sociedade aberta.

Popper cunhou o termo "Racionalismo Crítico" para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns académicos, incluindo Ernest Gellner, defendem que Popper, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva.
Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos factos.
O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenómeno em análise. (Ver Falseabilidade). Em outras palavras, uma teoria científica pode ser falsificada por uma única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações positivas poderá garantir que a veracidade de uma teoria científica seja eterna e imutável.
Alguns consideram este aspecto fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que "científico" é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os factos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável). Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto. Essas remanescem no bojo da própria Filosofia que Popper propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser falseável, isso se aplica à própria teoria da falseabilidade popperiana. Portanto, a falseabilidade deve ser falseável em si mesma. Diante dessa evidente necessidade - sob a pena de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua imprecisão - poderá existir proposições em que a falseabilidade não é aplicável (vide teorema da incompletude de Kurt Gödel). Nos dias de hoje, verifica-se que o falsificacionismo popperiano não é princípio de exclusão, mas tão somente de atribuição de graus de confiança ao objecto passível do crivo científico.
Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentativas. O estado actual da ciência é sempre provisório. Ao encontrarmos uma teoria ainda não refutada pelos factos e pelas observações, devemos nos perguntar, será que é mesmo assim ? Ou será que posso demonstrar que ela é falsa ?Einstein é o melhor exemplo de um cientista que rompeu com as teorias da física estabelecidas.
Popper debruçou-se intensamente com a teoria Marxista e com a filosofia que lhe é subjacente, de Hegel, retirando-lhes qualquer estatuto científico. O mesmo em relação à psicanálise, cujas teorias subjacentes não são falseáveis (refutáveis).
O seu trabalho científico foi influenciado pelo seu estudo da teoria da relatividade de Albert Einstein.
Origem da biografia e filosofia de Popper :




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