Como melhorar a educação brasileira


 Para as  minhas atividades complementares do módulo quatro ( faço Licenciatura em Ciências Sociais EAD pela Unicid )  a palestra foi sobre o tema Como melhorar a Educação Brasileira.

O palestrante foi Gustavo Ioschpe, autor do livro A Ignorância custa um mundo, resultado de sua tese de mestrado, onde aborda o tema dos Problemas na  Educação relacionado com o desenvolvimento econômico.
Um pouco sobre o Gustavo Ioschpe :


Foi colunista do jornal Folha de São Paulo e atualmente é colaborador na revista Veja e colunista do jornal Zero Hora [1]. É autor do livro A ignorância custa um mundo, ganhador do Prêmio Jabuti de 2005 [2]. Seus artigos têm levantado controvérsia pela ótica com que aborda a educação. Mesmo não possuindo formação específica na área, suas opiniões se baseiam em dados e médias, o que revelaria, segundo críticos, uma leitura do sistema educacional apenas do ponto de vista econômico ou administrativo, como se tratasse de uma empresa.
Fonte : Wikipédia

Destaco os três itens principais de seu livro que apontam as possíveis ações para melhorar o quadro da educação brasileira.
O autor apresenta seu plano de reforma baseado em três grande pilares, segundo sua palestra :

  1. Implantação da Lei de Responsabilidade Educacional – Não basear o repasse de recursos destinados a educação para a Cidade ou Estado no número de alunos e sim nos resultados: diminuir taxa de repetência e aumentar a performance na taxa de testes padronizados como o Saede, compondo com esses dois itens um índice que seria determinante no repasse dos recursos. Atualmente ocorre o contrário, as instituições com piores índices são as que recebem mais dinheiro, o correto seria penalizar a instituição que possui esse quadro,pois investem pouco e mal.A preocupação deve ser com os resultados, com premiações para prefeitos e escolas que conseguirem obter ótimos resultados.
  2. Fim da Restituição do Imposto de Renda em relação a gastos com educação Privada - Parte do principio que o Estado não deveria pagar a educação de alunos com famílias ricas.Outro ponto a considerar é a classe média que retira seus alunos da escola pública e com isso perde-se um importante grupo que poderia ajudar na pressão pela melhoria do ensino, já que migraram para o ensino particular contando com a facilidade de restituição do imposto de renda.É fato que hoje em dia, no ensino público a maioria das famílias são pobres, pais com pouca educação,sem voz política, sem capacidade de julgarem o que é boa educação ou não,  o que desarticula possíveis movimentos reivindicatórios.A constatação que sempre ouvimos de que antigamente a escola pública era ótima é um indicio desse quadro, com o esvaziamento da classe média da escola pública que antigamente era considerada de elite, resultou na perda da parcela da população que teria condições de exigir uma melhoria do ensino.A escola pública se tornou um repositório de crianças com as quais ninguém se importa, acarretando na perda da qualidade do ensino publico.O retorno da classe médica a escola publica geraria uma pressão por uma melhoria da qualidade.
  3. Fim da gratuidade universal nas universidades públicas brasileiros – Filhos da elite não teriam razão para que não paguem por seu curso universitário e dar essa gratuidade para quem realmente precisa e esses recursos seriam transferidos para o ensino fundamental e ensino médio.Essa medida também geraria um maior controle da parte financeira das universidade publica que atualmente sofre com uma ineficiência da administração dos recursos, com um gasto enorme por aluno.Com a universidade pública precisando gerir seus recursos através do pagamento de mensalidades o controle financeiro seria maior e regularizado.
Procurando saber mais sobre o tema encontrei no site Educar para Crescer  uma série de artigos aprofundando mais esse tema tão controvertido da melhoria da educação brasileira. Publicado em três partes, vou postar aqui em sequência.

Como melhorar a educação brasileira - Parte 1



"O salto do aprendizado se dá quando o professor cursou faculdade da disciplina que ensina. O formado em matemática dará uma aula de matemática muito melhor"


Bismarck dizia que nunca se mente tanto como em véspera de eleição, durante a guerra e depois da caça. No que tange às eleições, espero que esteja certo, porque naquela que me parece a área mais nevrálgica para o desenvolvimento futuro do Brasil - a educação - é melhor que aquilo que foi prometido durante essa campanha presidencial seja apenas retórica eleitoreira. Pois todos os candidatos se aferraram a um discurso quantitativo já superado (mais escolas, mais vagas, mais dinheiro etc.) e evitaram a discussão que importa: como melhorar significativamente a qualidade da educação de nossas escolas.
O que fazer para que o Brasil evolua com a magnitude e a rapidez necessárias? Para este colunista, o caminho está na junção de três fatores: práticas de sala de aula, formação dos professores e administração escolar. Neste artigo, falo da primeira ponta do tripé.
Mesmo com o baixo nível de formação de nossos professores e diretores escolares, há uma série de medidas que podem ser aplicadas hoje mesmo, em qualquer sala de aula, que tendem a melhorar significativamente o desempenho do alunado.

Antes, uma nota conceitual. Quando se fala aqui de melhorar o desempenho do aluno, o que se está procurando é o aprendizado, medido por meio de testes como Saeb, Prova Brasil, Pisa, TIMSS e outros, do Brasil e do exterior. A base para as recomendações que vão a seguir é a literatura empírica sobre o tema, publicada em revistas acadêmicas, em que os dados são tratados com rigor estatístico. Ou seja, não são teorias nem as opiniões e hipóteses deste colunista, mas sim fruto de medição.

Se tivesse de resumir toda essa literatura - centenas de estudos, de vários países e anos - em uma regra de ouro, diria: o tempo de contato entre o aluno e o professor é muito valioso e escasso, e deve ser usado apenas para atividades educacionais. Tudo aquilo que pode ser feito fora da sala de aula deve ser feito fora da sala de aula.

A primeira prática de um professor efetivo é, portanto, o uso eficiente do tempo de aula. Muitos professores chegam atrasados a suas salas. Perdem tempo fazendo chamada, dando recados e advertências. É um desperdício. O mais grave ocorre depois. Para muitos dos nossos professores, "aula" significa encher o quadro-negro de matéria e pedir aos alunos que a copiem, depois passar exercícios e pedir-lhes que os resolvam, e finalmente, se sobrar tempo, tirar uma dúvida ou outra. É um erro. Copiar texto é algo que pode ser feito em casa, então deve ser feito em casa. Exercícios, se são feitos pelo aluno individualmente, também. O tempo de sala de aula deveria servir para que professores e alunos conversassem sobre o texto que foi lido em casa e os exercícios feitos em casa.

A segunda prática virtuosa, portanto, é o dever de casa. As pesquisas mostram que alunos que têm de fazer dever de casa mais frequentemente aprendem mais, especialmente a partir da 4ª série. Um estudo feito em Minas Gerais mostrou que alunos de professores que prescrevem e corrigem o dever de casa aprendem mais do que aqueles cujos professores simplesmente o prescrevem. E alunos de professores que, ao corrigir o dever, comentam e explicam os erros e acertos aprendem mais do que aqueles cujos professores apenas marcam o "certo" ou "errado".

Relacionado ao dever de casa também está o tema dos exercícios em sala de aula: são contraproducentes. Subtraem tempo de aula para algo que o aluno pode fazer em casa.

Também na mesma lógica está a questão das provas: alunos que são testados com maior frequência aprendem mais. Faz sentido: quanto mais provas, mais o aluno tem de estudar. Quanto mais estuda, mais aprende.

Outro dado importante da pesquisa: bom material didático ajuda. Um bom livro didático, por exemplo, organiza e estrutura a prática de sala de aula. Uma das demandas do professorado brasileiro é por autonomia. Cada professor se sente no direito de reinventar a roda e criar seu próprio currículo e método de ensino. Na maioria dos casos, e especialmente quando a qualificação do profissional é baixa, é receita para o insucesso.

Um aspecto importante para determinar aquilo que o professor faz em sala de aula é quanto ele sabe sobre o que está fazendo/falando. No Brasil, há uma ênfase muito forte na diplomação universitária dos professores de ensino básico. É uma percepção acertada, já que a pesquisa sugere que professores com ensino superior obtêm melhores resultados (o mesmo não se verifica, curiosamente, com os níveis pós-superiores, como mestrado e doutorado, que se mostram irrelevantes para o aprendizado no ensino básico). Porém, o diabo está nos detalhes: mais importante do que obter o canudo é ter se formado na área em que vai ensinar. A pesquisa mostra que o salto do aprendizado se dá quando o professor cursou faculdade da disciplina que ele ensina. Um professor formado em matemática dará uma aula de matemática melhor do que outro formado em pedagogia ou história.

A maioria das pessoas acredita também que o tempo de atenção dado a cada aluno é fator importante para o aprendizado, por isso tende a querer salas de aula menores ou mais de um professor por sala. A pesquisa não sugere que essas medidas tragam resultados. É melhor ter um professor ótimo dando aula para 35 alunos do que dois medianos ensinando em turmas de 18.

Outro erro comum que cometemos é acreditar que a tecnologia e a infraestrutura são fatores determinantes para o aprendizado. Costumo ouvir, depois de palestras, as reclamações dos nossos professores de que são forçados ainda a conviver com "cuspe e giz" na era da internet. Felizmente para eles, cuspe e giz não estão obsoletos, porque são apenas mecanismos de expressão de uma tecnologia ainda sem par: o cérebro humano. A pesquisa indica que dar a infraestrutura básica - quadro-negro, cadeira e carteira para todo aluno, prédio protegido das intempéries do clima e com energia elétrica - melhora muito o desempenho do aluno. Mas, depois disso, as adições físicas não têm efeito. Inclusive a presença de computadores na escola, o que é deveras surpreendente. Depois do básico, o resto é por conta do professor.

Se você é daqueles que gostariam de melhorar a qualidade da nossa educação mas não sabe como, um bom começo é instar a escola de seus filhos ou do seu bairro a seguir essas práticas simples e eficazes. Não nos transformarão, em um piscar de olhos, numa Finlândia ou Coreia do Sul. Mas são um bom começo.


Como melhorar a Educação brasileira - Parte 2

"Há viés ideológico em muitos desses cursos, mais preocupados em formar os batalhadores de vanguarda da criação da nova sociedade, e não 'reles' ensinadores de matéria"

Conforme falamos aqui no mês passado, há muito que nossosprofessores podem fazer, em sala de aula, para melhorar a qualidade do ensino. Mas não nos iludamos: enquanto eles continuarem recebendo a formação que hoje obtêm na universidade, seus alunosterão fraco desempenho.
Atualmente, temos poucos dos chamados professores leigos - 93% dos nossos mestres do ensino básico nas grandes capitais têm diploma universitário. Mas a formação costuma errar na ênfase, no conteúdo e na prática.
A pesquisa mostra que os alunos se beneficiam quando o professor estudou a área que ensina. No Brasil, porém, há maior ênfase nos aspectos genéricos do ensino do que na formação em áreas específicas. Isso acaba provocando uma falta de professores qualificados em algumas áreas. O último censo escolar revelou que só um em cada quatro professores de física é formado na área. Em química, pouco mais de um terço.

Conteúdos específicos
Mesmo dentro dos cursos de matérias específicas, a situação é desalentadora. Estudo de equipe liderada por Bernardete Gatti analisou os cursos de formação de professores de centenas de faculdades. Cinco problemas chamam atenção. Em primeiro lugar, o caráter excessivamente teórico dos cursos. Nossa universidade, criada para ser formadora de pensadores de elite e pesquisadores, não está focada na capacitação de professores para encarar a realidade de uma sala de aula. Segundo, há uma desconexão entre os ensinamentos pedagógicos e os conteúdos específicos da matéria. Assim, quem cursa a área de matemática aprende bastante matemática e também pedagogia, mas não aprende a fazer a ponte entre ambas: como unir o conhecimento das duas áreas em uma técnica que resulte em ministrar aulas competentes. Outro problema importante é o viés ideológico de muitos desses cursos, que estão mais preocupados em formar os batalhadores de vanguarda da criação da nova sociedade, e não "reles" ensinadores de matéria. Esse não é apenas um fenômeno espontâneo - é também incentivado por nosso governo. Nas diretrizes do Enade de 2008, na área de formação em ciências, o futuro educador é incentivado a entender seu papel como "agente transformador da realidade, compreendendo a ciência como uma atividade social".

O quarto problema de nossos cursos é o desdém com que é tratada uma parte absolutamente crucial da formação do professorado: o estágio. Esse é um período em que, por lei, o futuro professor deveria passar em escolas, aperfeiçoando sua prática junto a professores experientes. Não é o que acontece. Segundo Gatti e equipe, praticamente não há planos de estágio nem indicações claras de como seria sua supervisão. Parece ser tratado mais como algo destinado a "cumprir tabela" do que a aprimorar o ensino. Finalmente, a academia brasileira vê a área de formação de professores como algo de baixo prestígio e valor. Nossas grandes mentes não estão engajadas no desafio de como criar cursos eficazes de formação de professores.

Na prática
O resultado de tudo isso é que os professores saem da faculdade sem os instrumentos necessários para dar uma aula eficaz. Por isso é que deparamos com dados como estes, expostos na pesquisa que deu origem ao livro A Escola Vista por Dentro: mais de 80% dos professores alfabetizadores afirmam ter aprendido o ofício "na prática" ou "com a experiência". Mas alfabetizar é algo que exige saberes que não se aprendem na prática, conforme demonstra o alunado: o mesmo estudo mostrou que só um em cada cinco matriculados na 1ª série teria condições efetivas de passar de ano.

O que fazer para alterar esse quadro? Basicamente, o oposto do que fazemos hoje. Precisamos direcionar nossos cursos de formação de professores para a realidade prática de sala de aula, dando menos ênfase à teoria. Devemos não apenas aprofundar o ensino de conteúdos de cada disciplina, como também melhorar a ligação entre o conteúdo e a didática, transformando o conhecimento em práticas de sala de aula. Temos de encarar o estágio como o elemento fundamental desse processo, em que esse ensino aplicado é testado, com supervisão rigorosa. Precisamos de uma campanha para elevar a importância dos cursos de formação de professores dentro das universidades brasileiras, dando status e reconhecimento aos que se dedicam a essa área. Devemos abolir o viés ideológico e ter certeza de que, antes de formar futuros revolucionários, nossos professores consigam ao menos formar gente que saiba ler, escrever e fazer as operações matemáticas básicas. Precisamos tornar os cursos de formação de professores mais exigentes, mais difíceis. Outra ferramenta importante, que vem sendo continuamente referendada pela literatura empírica, é a certificação de professores: exigir que todos os futuros professores passem por um teste que meça seus conhecimentos e preparos para a docência, garantindo que não teremos mais em sala de aula gente totalmente despreparada. Além de assegurar padrões mínimos de qualidade, a criação de um processo de certificação tem servido, em alguns países europeus, para permitir de modo mais simples a entrada na docência de profissionais formados em outras áreas. Alguns países vêm também aliando a certificação teórica com estágios probatórios: o futuro professor precisa demonstrar suas aptidões no estágio em sala de aula para receber seu diploma.

Por que ainda não se faz nada disso no Brasil? Por que permitimos que os responsáveis por nossos filhos tenham formação pior do que médicos, advogados e engenheiros? Os coordenadores desses cursos vão lhe dizer que o problema está com os próprios alunos: que só escolhem o magistério por falta de alternativa e que, portanto, não têm dedicação ou interesse por aquilo que estudam. É mentira. Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro mostra que apenas 8% dos professores das grandes capitais brasileiras entraram por acaso na profissão. Só 2% dizem ter ido dar aula por não encontrar outro emprego; 78% dizem ter orgulho de ser professor; e 72% se dizem apaixonados pela profissão.

Mudança real
O verdadeiro problema somos nós, a sociedade civil. Para haver uma mudança real na formação de professores, é necessário que a sociedade respalde as lideranças políticas empenhadas na reforma, porque essa reforma significa que os governantes precisarão intervir forçosa e radicalmente nesses cursos nas universidades públicas, alterando-os de cima a baixo. É curioso: nossos governantes criaram coragem para invadir o Morro do Alemão, mas as universidades públicas continuam sendo consideradas território perigoso demais para a ação saneadora do estado. Esculachar bandido armado de metralhadora é mais fácil do que peitar os doutores da academia, que permanecem livres para perpetrar seus delitos intelectuais. Enquanto não houver demanda social por mudanças efetivas, as reformas serão cosméticas. É possível criar uma certificação de professores e posar de moderno e preocupado, mas colocando a exigência em patamar tão baixo que não estimulará ninguém. Nossas elites continuam desconsiderando o problema da educação, achando que ele se restringe à escola pública. É a mesma ilusão do morador de Ipanema que acreditava que a violência do Alemão não o afetaria. Afinal, onde você acha que o professor que dá aula em escola particular se formou? Na Suíça?

Você sabe as metas do Novo Plano Nacional de Educação (PNE) do Brasil? Veja como está o país com relação a alguns pontos do novo PNE 2011-2020. Saiba sobre o tema e exija uma Educação de qualidade para todos em todo país.

Como melhorar a Educação brasileira - Parte Final


"A literatura empírica, econométrica, ainda está longe de conseguir identificar a totalidade dos fatores que compõem o professor perfeito"

A qualidade da liderança é um atributo decisivo do sucesso de qualquer organização, seja ela um time de futebol, uma empresa ou um país. Em educação, não é diferente: a administração escolar - tanto no nível das secretarias quanto na direção de uma escola - é o terceiro item fundamental na melhoria do nosso ensino, e conclui esta trilogia de artigos sobre o tema. Divido este artigo em duas partes. Na primeira, faço um levantamento do que a literatura empírica aponta como sendo os fatores importantes de uma administração escolarvirtuosa. Na segunda, explico por que muitos desses fatores não têm aplicabilidade no quadro atual da educação brasileira.
Antes de começar, um alerta: a literatura empírica, econométrica, ainda está longe de conseguir identificar a totalidade dos fatores que compõem o professor perfeito ou o diretor perfeito. Apesar dessa ignorância, há muito que já se sabe, e é disso que vamos falar.

Casa em ordem
O
que deve fazer um bom administrador escolar? Um fator importante é ter a casa em ordem. Isso começa pela infraestrutura: paredes, telhados, eletricidade. Uma escola limpa também tende a ter alunos que aprendem mais. É importante que todas as salas tenham quadro-negro, cadeiras e carteiras para os alunos. Não faltar material de ensino também é positivo. Duas instalações que toda escola deveria ter: laboratórios de ciências e bibliotecas. É bom ter não apenas uma biblioteca na escola, mas uma versão menor dentro de cada sala de aula. Em termos de tecnologia, um implemento que faz diferença é a copiadora. E é só. A literatura sugere que a presença de computadores não está associada à aprendizagem, tampouco instalações mais suntuosas, como ginásios esportivos, teatros etc. (O que não quer dizer que essas áreas não façam bem ao espírito, mas estamos nos atendo aqui àquilo que é relevante para o aprendizado do aluno).

Outra decisão importante da liderança escolar diz respeito ao regime seriado versus progressão automática. O único estudo que conheço que comparou esses dois sistemas, no Brasil, chegou à conclusão de que eles são indiferentes para o aprendizado do aluno. A discussão calorosa sobre o tema é muito barulho por nada.

Em termos de administração financeira, compete ao administrador evitar os dois maiores desperdícios de recursos: diminuir o número de alunos em sala de aula e aumentar o salário de professores. Ambas as variáveis não promovem mais aprendizagem.

Gestão de pessoas

A parte mais importante da administração escolar, porém, não tem a ver com prédios e sistemas, mas com pessoas. Cabe ao líder a tarefa-chave de recrutar, treinar, motivar e reter os bons profissionais e identificar e afastar os maus.

Primeiro, os diretores. Conheço apenas dois estudos quantitativos sobre o impacto de mecanismos de seleção de diretores: um deles mostra que diretores eleitos têm alunos com desempenho melhor do que aqueles indicados por políticos, e o outro sugere que essa variável é indiferente. Nos últimos anos, liderados por Minas Gerais, alguns estados e municípios têm adotado um sistema que envolve a realização de provas qualificatórias e, num momento seguinte, eleições. Parece-me um processo superior à eleição ou indicação política, mas ainda é preciso mais pesquisa sobre o tema.

Há um estudo apenas sobre remuneração do diretor no Brasil, e ele indica que o salário do diretor tem correlação com o aprendizado do seu aluno.

Questão importante: o número de horas-aula. Aqui, a pesquisa se divide: nos países desenvolvidos, o número de horas é insignificante para a aprendizagem. Nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, é importante. Como a diferença estatutária de número de horas-aula entre o Brasil e os países da OCDE não é muito significativa (800 horas/ano para nós versus 900, em média, para eles), creio que a conclusão mais importante a tomar é que é preciso fazer cumprir a jornada mínima de horas-aula no Brasil. Inês Miskalo, coordenadora de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, que atende milhões de alunos em todo o país (nota: este colunista é membro do Conselho do IAS), atesta que, na prática, a carga horária prevista em lei não é cumprida. "Há lugares em que ter 600, 650 horas-aula por ano é visto como um sucesso", diz ela. Antes de pensarmos em ensino de tempo integral, portanto, devemos nos certificar de que a carga prescrita em lei seja cumprida. Já nos traria um bom salto no aprendizado. O problema do absenteísmo docente está relacionado a essa questão: as pesquisas são praticamente unânimes em mostrar que professores que faltam mais têm alunos que aprendem menos.

Contrastes
Por que os professores faltam às aulas ou, em última instância, abandonam o magistério? A pesquisa vem sugerindo que fatores não financeiros têm enorme importância na motivação dos professores de seguirem na carreira. Um fator importante é o "clima escolar": em escolas em que há responsabilização coletiva por resultados, em que os professores se sentem partícipes de uma tarefa compartilhada e importante, os resultados são melhores. Outro resultado: em escolas em que os alunos aprendem mais e onde há menos alunos de minorias ocorre menos abandono de professores. Esse achado é triste porque contrasta com outro achado importante: o impacto de um bom professor é desproporcionalmente maior em um mau aluno e em alunos de baixo nível socioeconômico. A melhor política, portanto, seria alocar os melhores professores para as piores escolas, mas isso aumentaria o risco de que muitos deles abandonassem a carreira, especialmente os mais jovens e mais preparados. Além de melhorar o clima escolar, há outro recurso efetivo que pode ser usado pela direção de uma escola: programas de "mentoring", em que os professores "em risco" e os mais jovens recebem a orientação de um mentor: um professor mais experiente que ajudará nas frustrações e desafios que a carreira enseja. É importante que o bom professor não se sinta solitário e isolado, que seja constantemente amparado. A literatura mostra que os anos de carreira de um professor não têm relação com o aprendizado do seu aluno, mas os anos de permanência em uma mesma escola, sim.

Outro fator importante para o sucesso de uma escola é que o diretor tenha autonomia para contratar e demitir seus professores. As pesquisas revelam que é extremamente difícil identificar um bom futuro professor no momento de sua contratação, mas algumas características vêm se mostrando importantes: o professor ter estudado a área que vai ensinar na faculdade e ter cursado uma universidade concorrida produz efeito no aprendizado do aluno. Ter feito pós-graduação, não. Um estudo recente nos EUA indica que a utilização de um conjunto de variáveis cognitivas e não cognitivas dos futuros professores leva a resultados positivos. Em termos de regime de trabalho, ao contrário dos desejos dos sindicatos, a maioria das pesquisas mostra que não faz diferença, para o aprendizado do aluno, quantos empregos o professor tem, se trabalha em uma escola ou mais.

Finalmente, a meritocracia: os estudos vêm mostrando que planos que pagam bonificações a professores individuais não têm resultados significativos. Aqueles em que o pagamento é feito à escola, sim. Faz sentido: ensinar é tarefa sequencial e coletiva. Se o aluno teve uma péssima aula de matemática na segunda série, dificilmente se sairá bem na quarta.

Dificuldades para implantação
Mas muito do que vai acima ainda não pode ser implantado na maioria das escolas brasileiras. Em primeiro lugar, porque, conforme o último levantamento do Inep sobre o tema, quase 60% dos diretores escolares são fruto de indicação política. Na maioria dos casos, são apadrinhados de políticos: "Chega ano eleitoral e é um terror, todos têm medo de ser demitidos. O diretor vira cabo eleitoral do seu padrinho", diz Ilona Lustosa, da Fundação Lemann, focada na área de gestão escolar. "No primeiro ano (do mandato) não se faz nada, pois o governo está voltado a corrigir os erros do antecessor. No último, também não, pelo medo do que vai ocorrer depois. E, mesmo no meio, o diretor sofre o impacto da eleição da outra esfera (estado ou município), que frequentemente causa mudanças de pessoal", confirma Inês Miskalo. Em segundo lugar, porque mesmo os bem-intencionados são despreparados: não há nenhum curso de graduação em administração escolar, e até na área de pós-graduação a oferta é mínima. Em terceiro, porque na maioria dos estados o diretor é um funcionário público com estabilidade na carreira, praticamente indemissível, sem nenhum incentivo lógico a ter grande performance no cargo. (Nos últimos cinco anos, por exemplo, só dezessete diretores foram exonerados em todo o estado de São Paulo; na atual gestão da rede municipal de São Paulo, apenas dois.) Em quarto, porque o diretor de escola brasileiro é asfixiado por uma burocracia sem fim, e acaba sendo muito mais um preenchedor de formulários do que um líder pedagógico ou motivador de pessoas. Em quinto, porque na maioria dos sistemas o professor não tem incentivo para pensar no aprendizado do aluno, muito menos para ir ensinar em áreas de risco. E, finalmente, porque os diretores não têm controle sobre a variável principal do processo educacional: não podem contratar bons professores ou demitir os incompetentes.

Esse quadro é assim porque a função mais importante de uma escola para as lideranças políticas é servir de cabide de empregos e fonte de poder político, através da influência que a escola tem sobre uma comunidade. O aprendizado dos alunos importa menos. Enquanto for assim, não haverá literatura empírica que resolva.

Essa abordagem sobre a questão salarial dos professores que gerou muita controvérsia.Esse outro artigo trata dessa questão com mais detalhes :

Os quatro mitos da escola brasileira
O salário do professor brasileiro é superior à média nacional. Tanto, que o magistério éuma das carreiras mais populares do país

 Brasil tem se destacado há décadas na educação por uma razão incômoda: está entre os piores do mundo em sala de aula. Foi esse o tema de dois artigos do economista Gustavo Ioschpe, publicados por VEJA no ano passado. Especialista em economia da educação, com mestrado pela Universidade Yale, nos Estados Unidos, Ioschpe tornou-se referência no meio acadêmico ao abordar as questões do ensino com objetividade matemática. Reuniu suas conclusões no livro A Ignorância Custa um Mundo – O Valor da Educação no Desenvolvimento do Brasil, vencedor do Prêmio Jabuti em 2005. Um dos pilares de sua pesquisa causou controvérsia: Ioschpe afirma que os males da escola brasileira não têm relação com a escassez de dinheiro em sala de aula, tampouco com o baixo salário dos professores – idéias cristalizadas no Brasil –, mas sim se originam do despreparo dos docentes para o exercício da profissão. Neste artigo, Ioschpe se utiliza de comparações internacionais e estatísticas recentes para derrubar quatro dos mitos que, segundo ele, mais prejudicam a visão sobre os reais problemas da educação no país.


1º MITO - O professor brasileiro é mal remunerado
Ao aceitar essa idéia como verdade absoluta, as pessoas estão cometendo pelo menos dois enganos. O primeiro erro é comparar os professores brasileiros aos colegas estrangeiros. Se um país tem renda dez vezes maior que a brasileira, é de esperar que não só seus professores como as outras categorias ganhem um salário dez vezes maior – e é exatamente isso que ocorre. A comparação apropriada não é, portanto, entre a remuneração dos professores de vários países, mas sim desses salários em relação à média nacional. E nessa conta os docentes brasileiros aparecem numa situação mais favorável: enquanto eles recebem salário 56% superior à média nacional, nos países mais ricos a remuneração dos professores é 15% menor. Outra maneira de ver a questão é esclarecer se, lado a lado com outros profissionais brasileiros – de escolaridade e experiência equivalentes –, os professores levam a pior.

É aí que surge o segundo engano sobre a situação dos professores no Brasil. A comparação entre o salário dos docentes e o de outras categorias costuma desconsiderar um conjunto objetivo de variáveis, como jornada de trabalho, férias e aposentadoria (ao contrário da idéia que vigora no país, o professor tem jornada de trabalho mais leve do que o restante da população: 70% trabalham até quarenta horas semanais). São equívocos matemáticos que alimentam o mito de que o professor no Brasil é um injustiçado. Dos estudos mais sérios sobre o assunto, depreende-se justamente o contrário: eles mostram que o professor brasileiro está longe de ser discriminado no mercado de trabalho. Esses profissionais recebem, no Brasil, o esperado para pessoas com as suas qualificações e com a mesma rotina de trabalho. Se a classe docente fosse realmente injustiçada, o magistério não seria uma das carreiras mais populares do país, com mais de 2 milhões de profissionais – número que só faz crescer.

2º MITO - A educação só vai melhorar quando professores ganharem mais
Essa é uma afirmação que não tem respaldo na experiência internacional – nem na brasileira. Ao avaliarem o efeito que o aumento no salário dos professores havia causado no desempenho dos estudantes, centenas de pesquisas chegaram a um consenso: elevar a remuneração não fez melhorar os resultados na sala de aula. Da própria experiência brasileira, é possível extrair conclusão semelhante. Basta analisar o que ocorreu depois da melhora no salário dos professores, proporcionada pelo antigo Fundef (o fundo para a educação que foi substituído pelo atual Fundeb), desde 1997. Nesse caso, enquanto a remuneração dos docentes melhorou, as notas dos alunos despencaram nos exames nacionais conduzidos pelo Ministério da Educação. Conclusão: ter mais dinheiro no bolso não é o fato determinante para transformar o professor num bom educador. O que mais prejudica a performance dos docentes no Brasil é um sistema que despreza talentos individuais e resultados acadêmicos e forma professores com uma mentalidade equivocada – enquanto apenas 9% consideram ser prioritário "proporcionar conhecimentos básicos" aos alunos, a maioria prefere "formar cidadãos conscientes", de acordo com uma pesquisa da Unesco. É preciso, portanto, redimensionar a questão dos salários. O aumento dos professores pode trazer benefício a eles – mas não aos alunos. O mais urgente é fazer com que o professor chegue à sala de aula sabendo ensinar.

3º MITO - O Brasil investe pouco dinheiro em educação
Esse é um mito que não resiste a uma rápida consulta aos dados oficiais. De acordo com um recente relatório que comparou o volume de investimento de trinta países em educação, o Brasil não fica atrás das nações mais ricas. Eis os números: enquanto o Estado brasileiro destina 3,4% do PIB às escolas básicas, nos países da OCDE (organização formada por países da Europa e pelos Estados Unidos) esse gasto corresponde a 3,5% do PIB. O governo brasileiro também aparece como um investidor generoso no ensino superior: reserva às universidades 0,8% do PIB – a média da OCDE é de 1% do PIB (e olhe que no Brasil apenas 20% dos jovens estão na universidade, enquanto nos países mais desenvolvidos a média é de 50% de universitários). Conclusão: o Brasil gasta praticamente o mesmo que os países desenvolvidos – e obtém resultados muito piores.

Alguns especialistas consideram a comparação do Brasil com os países mais ricos inadequada e, por essa razão, continuam a bater na tecla da escassez de dinheiro. Eles argumentam que, ao contrário do que ocorre com os países da OCDE, o Brasil ainda precisa dar um enorme salto na educação, o que consumiria uma fatia bem maior de recursos. É a experiência internacional, mais uma vez, que os contradiz. O melhor exemplo vem da Coréia do Sul: entre 1970 e 1995, o governo coreano separou 3,5% do PIB para patrocinar uma revolução em sala de aula. A China também tem gasto pouco – apenas 2% do PIB ao ano – para alcançar resultados igualmente extraordinários. Pesquisas conduzidas em dezenas de países não cansam de demonstrar que o volume de investimento não tem relação com a qualidade em sala de aula. O problema da educação brasileira não é, portanto, a falta de dinheiro – mas sim o fato de o governo gastar mal o que tem.

4º MITO - A escola particular é excelente
Os resultados dos exames realizados por estudantes de escolas públicas e particulares autorizam apenas a concluir que a rede privada é um pouco melhor do que os colégios municipais e estaduais. Esses exames estão longe de indicar que a escola particular brasileira é um modelo de excelência acadêmica. O dado mais esclarecedor sobre o assunto veio de uma prova aplicada pela OCDE, que mediu o conhecimento dos estudantes de 41 países e colocou o Brasil nas últimas posições em todas as disciplinas avaliadas. O teste mostrou que não apenas os alunos de escolas públicas haviam contribuído para o fiasco brasileiro: o resultado dos estudantes 25% mais ricos do Brasil foi inferior ao dos 25% mais pobres dos países mais desenvolvidos. Nossas deficiências educacionais são, portanto, visíveis nos alunos que supostamente cursam as melhores escolas particulares. O mito de que a escola particular oferta ensino de alto nível também não resiste ao diagnóstico que toma como base o resultado dos estudantes nos exames do MEC: o conhecimento dos alunos nesses colégios está aquém do desejado – e a anos-luz da excelência, segundo o próprio MEC.

As pesquisas chamam atenção ainda para outro fato que depõe contra a escola particular: 90% de sua superioridade em relação à rede pública deve-se à condição socioeconômica de seus estudantes, que vivem num ambiente mais favorável ao aprendizado. Apenas 10% são atribuídos ao maior brilhantismo acadêmico da escola. As escolas particulares, afinal, sofrem do mesmo problema que os colégios públicos: seus professores passaram por escolas ruins e cursaram faculdades precárias. Infelizmente, eles estão igualmente desqualificados para dar uma boa aula. O Brasil só vai deixar a lanterna na educação quando conseguir fazer um diagnóstico correto – e se livrar desse e dos demais mitos que rondam as escolas do país.


Controvérsias :

O pensamento desse autor gera muitas controvérsias no meio acadêmico, abaixo coloco algumas :


- Questão do salário
Origem do artigo : AQUI

As falácias de Gustavo Ioschpe

Você sabe o que é uma falácia? Pois a falácia é um tipo de raciocínio, indutivo ou dedutivo, baseado em uma argumentação que, apesar de seguir rigorosamente as regras da lógica, leva a conclusões absurdas. O exemplo mais batido, mas muito eficiente, é aquele raciocínio infame segundo o qual “Deus é amor, o amor é cego, Stevie Wonder é cego, então Stevie Wonder é Deus”. Nesse caso, a infâmia está escancarada, e qualquer criança é capaz de perceber que, apesar de o raciocínio estar aparentemente correto, seu resultado é ridículo e não corresponde à verdade.
O problema é que nem sempre as falácias se denunciam assim, tal qual gato preto em campo de neve. Na maioria das vezes, os resultados absurdos dos raciocínios falaciosos ficam muito bem disfarçados, e os menos dotados de espírito crítico acreditam nele. Existem vários tipos de falácia:
Falácia da falsa causa: é aquela falácia segundo a qual se considera como causa de um acontecimento um fato ou fenômeno que apenas o antecedeu, sem relação constatada de causa e efeito entre eles. Por exemplo, Filmes violentos causam comportamento violento em seus especatores. Meu vizinho assistiu a Assassinos por natureza e depois cometeu uma chacina na sua escola. O fato de uma pessoa cometer assassinatos após assisitir a um filme violento não comprova essa relação de causa e efeito. Não há meios de comprovar que, se ele tivesse assistido ao filme A noviça rebelde, ele não teria cometido os mesmos crimes.
Falácia da causa comum: afirma que um fato é causa de outro, sem considerar que há um terceiro fato que é causa dos dois primeiros. Exemplo: A publicidade, através de atores e modelos belos e bem vestidos, incita as pessoas a darem valor excessivo à aparência. Ora, a publicidade quer vender, e para isso, apela para os valores do público que quer atingir. Portanto, se ela mostra pessoas belas e bem vestidas, é porque, anteriormente a isso, as pessoas já dão valor excessivo à aparência. Talvez ambos os fatos estejam atrelados a um terceiro: o desejo de ter status, que na época da sociedade aristocrática se estabelecia pelos títulos de nobreza, os quais foram abolidos após o advento da sociedade burguesa.
Falácia do apelo à ignorância: afirma uma verdade com base no desconhecimento de argumentos que lhe contrariem. Por exemplo: Não há perigo de transmissão do HIV em consultório dentário. Até hoje, nenhum caso desse tipo foi registrado. O fato de nunca ter acontecido não comprova que nunca venha a acontecer.
Enfim, há ainda vários outros tipos de falácia, como o apelo à autoridade e a generalização apressada. Muitas vezes, mesmo sem nos darmos conta, utilizamos discurso falacioso. Outras vezes, oradores competentes usam falácias conscientemente com o intuito de fazer seus ouvintes concordarem com ele.

FALÁCIAS DA PRÁTICA
Os artigos sobre educação que Gustavo Ioschpe escreve para a revista Veja, por exemplo, são um festival de falácias, um prato cheio para analisarmos os mais diversos exemplos delas!
Vejamos alguns:
Em 1° de outubro de 2008, ele publicou o artigo Dinheiro não compra qualidade, em que ataca a ideia defendida pelos professores de que para melhorar a educação no Brasil é preciso aumentar significativamente o salário da categoria docente para que essa se sinta motivada a ensinar melhor. Diz ele:
“O problema principal dos funcionários de nossas escolas não é de motivação: é de preparo. E falta de preparo não se resolve com salário, mas com mais e melhor treinamento. Alguns defendem a idéia de que um aumento de salário atrairia novas e melhores pessoas ao magistério. Que não adianta aumentar o salário dos professores em 20% ou 30%: seria necessário dobrá-lo ou triplicá-lo, para torná-lo comparável ao salário das carreiras ditas nobres. Há dois problemas com a idéia: primeiro, não tem respaldo empírico. Segundo, mesmo que seja verdadeira, o orçamento de prefeituras e municípios simplesmente não comportaria um salto assim.“
Ioschpe lança mão de uma falácia de apelo à ignorância quando diz que não há respaldo empírico para o argumento de que um aumento salarial atrairia novas e melhores pessoas ao magistério. O fato de não haver respaldo empírico não invalida – nem confirma, concordo – o argumento. Além disso,  o autor esquece que, se é preciso mais treino e preparo para melhorar a educação, para treinar e preparar-se melhor é preciso motivação. Por que alguém estudaria mais para ganhar a mesma coisa? Eu acredito que a medida isolada de aumento salarial para a categoria docente não resolveria, de fato, os problemas da educação brasileira, mas ela é um dos elementos fundamentais para um conjunto de medidas que vise a esse objetivo.
Convenhamos, o dinheiro é um símbolo de valorização. Por que tratamentos estéticos são tão caros e por que tantas pessoas pagam por eles? Porque a beleza é um valor para a nossa sociedade. Diversas mulheres interrompem o curso de inglês e a terapia e deixam de comprar livros nos momentos de aperto financeiro, mas não deixam de retocar a raiz – e não é só porque ela considera seu cabelo importante, mas porque também sua chefe, suas clientes e seus pretendentes o consideram. Numa sociedade, basta verificar quanto a população investe em determinados setores – estética, pet shops, vestuário, viagens, etc – para saber o que ela valoriza.
Portanto, o dia em que a sociedade realmente quiser uma educação de qualidade, o dia que em um professor for considerado tão importante quanto uma massagista que reduz a celulite, aceitará pagar salários melhores à categoria docente. Enquanto não aceitar, terá educação de má qualidade, e isso tem relação, sim, com remuneração.
Em 07 de dezembro de 2007, Ioschpe publicou o artigo Professor não é coitado, em que ataca a ideia de que a carreira docente seja tão ruim como se propala. Diz ele:
Segundo a última Sinopse Estatística do Ensino Superior, em 2005 havia 904.000 alunos matriculados em cursos da área de educação, ou o equivalente a 20% do total de alunos do país. É a área de estudo mais popular, deixando para trás gerenciamento e administração (704.000) e direito (565.000). Ademais, é uma área que só faz crescer: em 2001, eram 653.000 alunos – um aumento de quase 40% em apenas quatro anos.
(…)
Surge o questionamento: se a carreira de professor é esse inferno que se pinta, por que tantas pessoas optam por ela? Pior: por que esse interesse aumenta ano a ano? Seria uma categoria que atrai masoquistas? Ou desinformados?
Ioschpe usa aqui a falácia da falsa causa. Segundo seu raciocínio, tantas pessoas procuram a carreira docente porque a carreira docente é boa. Ele deve pensar também que se há uma lista quilométrica de homens interessados no emprego de lixeiro, deve ser porque ser lixeiro é muito bom! Ora, não lhe ocorre que talvez tantas pessoas procurem a carreira docente por não terem outra escolha? Como o próprio Ioschpe defende em outro artigo – O direito à ruindade -, profissionais com diploma universitário costumam ganhar mais do que os que não o têm. Por isso, muitas pessoas procuram o curso superior. Acontece que nas universidades públicas os cursos de licenciatura oferecem menor concorrência por vaga, e em muitas universidades particulares, as licenciaturas cobram mensalidades mais baratas. Portanto, o fato de a carreria docente atrair tantas pessoas não se explica por ser fácil ser professor, mas por ser fácil se tornar professor.
E aí volta à tona o aumento salarial da categoria para melhorar a educação. Aumentando o salário dessa carreira, mais pessoas se interessariam por ela. Se mais pessoas se interessassem por ela, a concorrência nas universidades federais e as mensalidades das particulares aumentariam. Assim, só entraria em curso de licenciatura pessoas que realmente querem e podem ser professores. Estou eu mesma cometendo uma falácia? Não, a medicina é o pilar que sustenta o meu argumento. Não são só os melhores que entram nessa tão desejada faculdade? E a remuneração dessa classe é vergonhosa como a dos professores? Creio que não.
Para melhorar a educação, é preciso melhorar, sim, a remuneração de seus funcionários. É fato que isso custaria caro. Mas, como disse Derek Bok, ”se achas caro preço da educação, experimenta o da ignorância”. Já estamos experimentando. Um deles é haver quem acredite em Gustavo Ioschpe.


Esse post foi muito comentado no blog da autora, selecionei alguns comentários :

Luis Felipe
A questão que o rapaz Gustavo ignora deliberadamente, e que praticamente desqualifica seus argumentos, é que as avaliações externas são recentes e não emitem conclusões seguras. É verdade que fatores culturais e sócio-econômicos aos quais os alunos são submetidos são, muitas vezes, mais determinantes do que a remuneração dos docentes. Mas a valorização da educação, como um todo, perpassa questões como melhores condições de trabalho, tanto no que diz respeito ao professor, quanto de aprendizagem, no que diz respeito ao aluno (condições de ensino-aprendizagem são a mesma instância – melhores materiais, menos alunos por turma, melhor aproveitamento do tempo, etc.), além de melhores salários e adequado tratamento social (leia-se, aí, reconhecimento pela imprensa) digno de acordo com a importância da função social. Não dá para esquecer que esse menino é um novo fantoche das elites que defendem o estado mínimo e que temem a elevação da consciência de classe do povo.

Gustavo Melo
Assisti a entrevista dele ontem com muita atenção e acredito que ele tem razão sim em muitos pontos, dentre eles que a educação deve ser gerida para RESULTADOS.
Ana Maria Montardo
Nesse ponto eu também concordo com ele, Gustavo. Podes ver que em meu texto, não contextei essa parte da maneira com que ele pensa a educação.
A única dúvida que eu tenho a esse respeito é: como medir os resultados em educação? Como deves saber, provas e testes não provam nada. Submetidas à mesma prova elaborada pelo mesmo professor, alunos que assisitiram às mesmas aulas do mesmo professor têm resultados muito diferentes. E aí? O professor é competente ou não? Se não, por que um aluno tirou 10? Se sim, por que outro aluno tirou zero? O aluno que tirou pode ter tirado 10 porque adora a disciplina, porque faz aula particular ou porque o pai prometeu-lhe uma bicicleta em recompensa, o que tira o mérito do professor. Mas o aluno que tirou zero pode odiar a disciplina, querer agredir seus pais com seu fracasso escolar, estar transtornado pela separação dos pais, ou pela morte do avô, ou pela desclassificação de seu time do campeonato brasileiro ou pela paixão por uma coleguinha ou simplesmente não estar nem aí para o seu futuro, o que não é demérito do professor.
E esse é apenas o lado mais superficial da questão de resultados em educação. Por quanto tempo sua mãe teve que buzinar no seu ouvido para não deixar a toalha no banheiro e escovar os dentes depois das refeições até que você incorporasse esses hábitos – se é que incorporou (a educação de algumas mães também não dá resultados)? Pois é, educação é investimento de longo prazo, um processo de semeadura de cuja colheita não é o professor quem usufrui, mas a sociedade. O fato de um aluno ou de uma turma ir mal em provas hoje não significa que serão maus cidadãos e profissionais amanhã. Dentre os profissionais bem-sucedidos que conheço, há quem tirava 4,0 em Cálculo na faculdade e quem reprovou na escola e concluiu o Ensino Médio em supletivo. Mas se deram bem na vida. Será que se deram bem porque o que (não) aprenderam na escola não fez falta em suas vidas profissionais? Ou será que se deram bem porque o que seus professores lhe ensinaram só fez sentido dez, quinze anos depois? Os professores foram ou não foram importantes? Não tem como saber.
Avaliar resultados em educação é como avaliar resultados em uma psicoterapia, onde não podemos saber se o sujeito que não conseguia se envolver com ninguém em um relacionamento estável conseguiu fazê-lo por causa da terapia ou se tudo era uma questão de tempo, e ele conseguiria fazê-lo de qualquer jeito, mesmo sem terapia.
As pessoas teimam em tratar as ciências humanas do mesmo modo como tratam as ciências exatas, sem desconsiderar as milhares de variáveis envolvidas no “objeto de pesquisa”.
Novamente, concordo que se deva medir os resultados do trabalho do professor. Só não sei como.


Recomendo enfaticamente  ir até o blog da autora do artigo para ler mais comentários, realmente a questão é complexa e merece o debate intenso sobre o assunto !
E voltando ao início do post, sobre a palestra on line que assisti, não foi mencionada essa questão dos salários dos professores...

  








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