David Rocha
Os primeiros hominídeos surgiram na África por volta de 3 milhões de anos atrás, e dessa data em diante foram sempre evoluindo. O primeiro foi o Australopitecus, depois o Homo habilis, Homo erectus, Homo de neanderthal e enfim o Homo sapiens sapiens. Destes, o único que conseguiu sobreviver foi o último, pois usou a sua inteligência para encontrar as soluções para os seus problemas.
Uma dessas soluções foi o domínio do fogo. Podemos até mesmo afirmar que o domínio da produção do fogo foi um dos principais avanços da humanidade, colaborando para o desenvolvimento da raça humana. Antes de aprender a dominar o fogo, eles tinham que esperar um raio cair em uma árvore ou um incêndio numa floresta. O homem ficava totalmente dependente do acaso para conseguir esse precioso bem. Com a produção do fogo, o homem pré-histórico garantiu um grande avanço, pois podia iluminar a caverna, cozinhar a carne, espantar os animais selvagens e garantir o aquecimento nas épocas de frio. Será que houve debates e atritos entre os Homo habilis sobre a importância do fogo? Já pensou como seria se os contrários ao fogo ganhassem a disputa?
Os primeiros homens eram caçadores e coletores e precisavam se mudar constantemente em busca de alimento. Sendo nômades, não construíam casas fixas e passavam quase todo o tempo em busca de alimento e se defendendo dos animais. Os nômades se livravam das crianças e dos velhos que não podiam acompanhar o grupo.
Essa situação mudou quando foi descoberta a agricultura, pois agora o homem passava a ser dono do seu destino e não dependia somente da natureza. Agora ele poderia se fixar em um local e construir moradias melhores e mais confortáveis; agora poderia dormir tranquilo, pois as paredes das casas serviam como proteção.
Mas nem todos se tornaram agricultores, já que alguns continuaram nômades e ainda matavam os velhos e crianças que não podiam acompanhar o grupo na sua busca por alimento. Quando faltava comida, os nômades atacavam os agricultores e roubavam o que precisavam e destruíam as ferramentas.
Por que continuaram nômades e não se tornaram agricultores? Por que além de roubar os alimentos também destruíam as ferramentas? Seria por acomodação, falta de informação...? O que seria do homem atual se os nômades tivessem vencido a disputa, como se alimentaria tanta gente?
A evolução não parou na descoberta da agricultura, e na segunda metade do século XVIII aconteceu na Inglaterra a Revolução Industrial, que se caracterizou pela substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e da produção doméstica pela produção intelectual.
Antes da Revolução Industrial, destacava-se a figura do artesão, que logo perdeu prestígio e seu meio de sobrevivência. A solução encontrada por estes foi quebrar as máquinas que estavam tomando seus empregos. Penso que a solução não era quebrar as máquinas, mas sim dominá-las e, assim, acompanhar o “progresso”; com certeza não ficariam desempregados.
Mas não era somente os empregos que eles estavam perdendo – ou não era o mais importante. Eles estavam perdendo poder, influência, prestígio, posição social, e isso fez com que lutassem contra a tecnologia. Poderiam dominar as máquinas, mas isso os tornaria simples mortais, sem destaque social.
Já pensou o que seria de nós se os artesãos ganhassem a guerra contra as máquinas? Provavelmente você não estaria lendo este desabafo de um professor cansado e desiludido com sua categoria.
Hoje vivemos a revolução da informação, que, como uma revolução, trouxe seus benefícios e problemas, mas veio para ficar, e nós, principalmente os professores, devemos abrir nossas mentes para receber essa nova realidade. Estou consciente de que não é fácil, pois parece que as regras do jogo foram mudadas no meio da partida, ou seja, o professor estudou, se formou e passou em um concurso público; pronto acabou, agora ele poderia colher os frutos do seu esforço, mas de repente surge uma coisa chamada computador, surge a internet, coisas que ameaçam a sua posição de destaque dentro da sociedade. Antes falavam: ‘pergunta para o professor’; agora falam: ‘pesquisa no Google’.
A máquina nunca vai substituir o homem, principalmente o professor. Penso que a informática pode ser utilizada como um facilitador do trabalho do professor; ou seja, no lugar de quadro e giz hoje pode ser usado o datashow; no lugar da biblioteca tradicional, podemos usar a internet; ao invés de usamos os livros de papel, podemos usar os livros digitalizados.
Para mostrar que é possível, criamos o projeto Matemática Animada, que foi elogiado por pessoas da área de Educação.
Algumas poucas professoras apostaram na tecnologia e, com o apoio da direção da escola, começaram a utilizar o computador na educação infantil. O resultado foi muito positivo, e quando elas apresentaram o resultado para os pais estes ficaram encantados; foi a primeira vez que eu tive o prazer de assistir a professoras sendo aplaudidas em uma reunião de pais.
Se alguns professores querem se comportar como os australopitecus da Pré-História, como os povos nômades, como os artesãos na época da Revolução Industrial, tudo bem, mas ridicularizar, desprezar, fazer fofocas e piadinhas com quem tem compromisso com a educação é inaceitável.
Esses professores que pensam que vão perder o poder do saber, que pensam que perderão a importância como professor não podem impedir que a revolução tecnológica seja democratizada. Ao se portar dessa maneira, estão condenando os alunos a uma exclusão tecnológica e a um futuro incerto. Não estão condenando somente esses alunos, mas gerações inteiras, pois estão tirando a oportunidade destas crianças de mudar a sua condição social.
As desculpas para não utilizar as novas tecnologias são variadas, mas a maioria das escolas do Distrito Federal possuem laboratório de informática com quantidade de máquinas suficiente para começar a mostrar para nossas crianças o maravilhoso mundo digital.
Quero pedir desculpas a todos que não se comportam como os nômades ou como os artesãos. E afirmo: o Estado precisa exigir que os professores apresentem diploma de informática para promoção na carreira. Que seja exigido diploma de informática e teste no concurso para professor.
Sei que alguns irão ler este texto em busca de erros de português ou concordância. Para estes quero afirmar que não vai ser uma troca de “s” por um “ç” que me tornará um pré-histórico, já que eu posso entrar no meu dicionário eletrônico e aprender para sempre a grafia da palavra. Já quem não sabe ligar um computador sabe menos que o aluno ao qual tenta ensinar.
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