Artigo do Dia : Prêmio Florestan Fernandes

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Prêmio Florestan Fernandes
Instituído em 2003, no XI Congresso Brasileiro de Sociologia, o prêmio "Florestan Fernandes", conferido pela Sociedade Brasileira de Sociologia, expressa o reconhecimento a sociólogos que contribuíram de forma marcante para o progresso das Ciências Sociais no Brasil 
por Sérgio Sanandaj Mattos*



ilustração sobre foto do acervo CSBH

Nestes tempos globalizados, em que a informação em rede e em tempo real possibilita novas formas de saberes e de ação social, a história da Sociologia, e de suas organizações científicas e profissionais, como campo do conhecimento científico desperta a atenção de diversos autores. Esperando "contribuir para a história da Sociologia e das organizações sociológicas no Brasil", este texto, ao tempo em que revisita alguns dos aspectos mais presentes da história da Sociologia, apresenta um desafio de mostrar um recorte dos intelectuais agraciados com o prêmio Florestan Fernandes, no itinerário dos congressos da Sociedade Brasileira de Sociologia.
*Auguste Comte » Divulgador do positivismo, o filósofo Auguste Comte nasceu na cidade de Montpellier, na França, em 1798. Suas ideias estimularam o desenvolvimento das ciências sociais no século 19. No Brasil, o positivismo comtiano contagiou o ideal dos republicanos - o lema da nossa bandeira, por sinal, é uma máxima positivista: "Ordem e Progresso". Auguste Comte faleceu em Paris no ano de 1857.
A Sociologia, enquanto ciência da sociedade é herdeira dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa. No Brasil, os estudos de Sociologia começaram com o advento da filosofia positiva nas escolas de Direito. O prestígio das ideias de Auguste Comte* nos meios acadêmicos trouxe, aos estudiosos das ciências jurídicas, o interesse pelos assuntos sociológicos na concepção filosófica do velho pensador francês. Nesse período, em muitas "faculdades livres ciências jurídicas e sociais", o direito, pensado como ciência, foi influenciado pela Filosofia e pela emergente Sociologia.

*Roger Bastide » No texto Brasil, terra de contrastes, o sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) demonstra todo o seu encantamento (e estranhamento) com o país no qual desembarcou em 1938, junto da Missão Francesa que ajudou a consolidar a Universidade de São Paulo. No Brasil, Bastide estudou as relações raciais e as religiões afro-brasileiras. Como professor da USP e catedrático de Sociologia, foi mestre de uma geração brilhante de sociólogos, dentre os quais Florestan Fernandes.

Como trabalho intelectual no estudo dos fenômenos sociais subordinado a padrões científi cos sistemáticos, e como atividade autônoma voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, a Sociologia só aparece na década de 1930 com a fundação da Universidade de São Paulo (1934), com forte influência européia e com vários professores estrangeiros, especialmente franceses, como Levi-Strauss e Roger Bastide*, embora o pensamento sociológico já existisse no Brasil desde o final do século 19, início do século 20, desenvolvido por Euclídes da Cunha em sua obra Os Sertões e nas idéias abolicionistas e republicanas.

A institucionalização acadêmica, no Brasil, ocorreu somente em meados dos anos 1930, com a formação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933), a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (1934) e, em meados de 1935, algumas disciplinas das Ciências Sociais começaram a ser ministradas na Universidade do então Distrito Federal, no Rio de Janeiro
Instituição da sociologia 
A institucionalização acadêmica, no Brasil, ocorreu somente em meados dos anos 1930, com a formação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933), a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP (1934) e, em meados de 1935, algumas disciplinas das Ciências Sociais começaram a ser ministradas na Universidade do então Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Em 1939, o curso de Ciências Sociais teve início na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Nesse período despontam Gilberto Freyre, Caio Prado, Sérgio Buarque de Holanda, intelectuais conhecidos como a geração de 1930, e autores de três livros clássicos: Casa Grande e Senzala, por Gilberto Freyre, em 1933, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda em 1936 e Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, em 1942.
Nos anos 1930, a institucionalização e criação dos cursos de Sociologia, consolidam de certa forma a independência científi ca e afirmariam a formação dos "especialistas" da Sociologia, deslocando a liderança intelectual do campo jurídico na Sociologia. Nesse período, em 1934, dentro de um contexto histórico de institucionalização das Ciências Sociais - principalmente da Sociologia, surge a Sociedade de Sociologia de São Paulo, que em janeiro de 1950, se transforma na atual Sociedade Brasileira de Sociologia, uma associação científi ca de âmbito nacional, que agrega inúmeros intelectuais e sociólogos que contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais no Brasil.
*Fernando de Azevedo » O sociólogo e educador Fernando de Azevedo (1894-1974) foi professor e catedrático de Sociologia na USP e ocupou diversos cargos na gestão pública em nível estadual e federal. Autor de livros sobre sociologia da educação, foi eleito para a cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras em 1967.
A partir dos anos 1950, num período em que o País passa por um processo acelerado de industrialização e urbanização, os cursos de Ciências Sociais se disseminam pelo Brasil por meio das universidades federais. Entre 21 e 27 de janeiro de 1954, é realizado na Universidade de São Paulo o I Congresso Brasileiro de Sociologia, presidido por Fernando de Azevedo* com o tema "O ensino e as pesquisas sociológicas; organização social; mudança social". Nesse congresso, Florestan Fernandes apresenta o trabalho "O ensino da Sociologia na escola secundária brasileira".
Em 1962, é realizado, em Belo Horizonte, o II Congresso Brasileiro de Sociologia. Na abertura, o sociólogo Florestan Fernandes proferiu a palestra "Sociologia como Afirmação". O congresso por ele presidido teve como tema "Balanço e as Perspectivas da Sociologia no Brasil". A conjuntura do início dos anos 1960, entretanto, difi culta os debates e encontros. Após o encontro de Belo Horizonte, em 1962, as atividades da SBS foram interrompidas. Com a redemocratização do País, em 1985, durante o Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), no dia 24 de outubro, a Sociedade Brasileira de Sociologia é reativada.


O III Congresso Brasileiro de Sociologia retomou as reuniões realizadas em Brasília, em 1987, com o tema "Sociologia, Sociologias". Nos anos seguintes, foram realizados o IV Congresso Brasileiro de Sociologia, Rio de Janeiro, 1989, "Sociologia Hoje"; V Congresso Brasileiro de Sociologia, Rio de Janeiro, julho de 1991, "História e Trajetória da Sociologia no Brasil"; VI Congresso Brasileiro de Sociologia, Recife, 1993, "A Sociologia entre a Modernidade e a Contemporaneidade"; VII Congresso Brasileiro de Sociologia, Rio de Janeiro, 1995, Universidade Federal do Rio de Janeiro, IFCS/UFRJ, "Desigualdade, Pobreza e Exclusão"; VIII Congresso Brasileiro de Sociologia, Brasília, 1997, "A Contemporaneidade Brasileira: dilemas e desafios para a imaginação sociológica"; IX Congresso Brasileiro de Sociologia, Porto Alegre, RS, 1999, "A Sociologia para o Século XXI"; X Congresso Brasileiro de Sociologia, 2001, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, "Sociedade e Cidadania: novas utopias"; XI Congresso Brasileiro de Sociologia, 2003, Universidade de Campinas, SP, "Sociologia e Conhecimento além das Fronteiras"; XII Congresso Brasileiro de Sociologia, 2005, Universidade Federal de Minas Gerais, "Sociologia e Realidade. Pesquisa Social no Século XXI";
O XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, 2007, ocorreu em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco, entre 29 de maio e 1o de junho, cujo tema foi "Desigualdade, Diferença, Reconhecimento". O XIV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia ocorreu no Rio de Janeiro, na UFRJ, campus da Praia Vermelha, entre 28 e 31 de julho de 2009, tendo como tema "Sociologia: Consensos e Controvérsias". O XV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), sob a gestão da Profª Drª Celi Scalon, acontece de 26 a 29 de julho de 2011, no campus da UFPR, Curitiba (PR), tendo como tema "Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos".
Na história da Sociologia, Florestan Fernandes, um dos mais influentes sociólogos brasileiros, está obrigatoriamente associado à tradição acadêmica e à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Como um desafio para a própria Sociologia, o seu nome se impõe, cada vez mais, como uma referência
A contribuição de Florestan
Na história da Sociologia, Florestan Fernandes, um dos mais influentes sociólogos brasileiros, está obrigatoriamente associado à tradição acadêmica e à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Como um desafio para a própria Sociologia, o seu nome se impõe, cada vez mais, como uma referência em estudos, teses, prêmios, títulos, condecorações, etc. No XI Congresso Brasileiro de Sociologia, em 2003, em reconhecimento à importância da contribuição de Florestan Fernandes para a construção da Sociologia no Brasil, a SBS instituiu o "Prêmio Florestan Fernandes", concedido a cada dois anos por ocasião dos congressos brasileiros de Sociologia, a destacados sociólogos que, por sua atuação, produção, trabalho e dedicação à área, são marcos de referência para a Sociologia no Brasil e apresentam contribuição fundamental ao avanço do conhecimento científi co. Os indicados são escolhidos pela diretoria e pelo Comitê Científico da SBS. A partir de então, inúmeros intelectuais e sociólogos que contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais no Brasil já receberam o prêmio "Florestan Fernandes".
Em 2003, no XI Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado na Universidade de Campinas, SP, na primeira turma de contemplados com o Prêmio Florestan Fernandes durante a gestão de César Barreira, a Sociedade Brasileira de Sociologia conferiu o prêmio ao professor Octávio Ianni (1926-2004), um dos expoentes da "escola paulista de Sociologia", a Heleieth Safi oti (1934-2010), professora titular de Sociologia na UNESP, campus Araraquara, e também professora-assistente doutora da pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-SP, presidente da Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo (ASESP, 2001-2003), e a Manuel Corrêia de Andrade (1922-2007), professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco, especialista em geografia humana e estudos agrários.
Em 2005, no XII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais, receberam o Prêmio Florestan Fernandes, durante a gestão de Maria Stela Grossi Porto, os professores Heraldo Pessoa Souto Maior (UFPE), professor emérito da UFPE, membro titular do Conselho Diretor da Fundação Joaquim Nabuco; Juarez Rubens Brandão Lopes (USP/ Unicamp) professor do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas e pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp, um dos organizadores do 1º Congresso Brasileiro de Sociologia e um dos Fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - CEBRAP; e Wilma de Mendonça Figueiredo (UnB), socióloga e professora emérita da UnB.
Em 2006, pela Lei no. 11.325, de 24 de julho, Florestan é declarado patrono da Sociologia brasileira. Nesse ano, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), decide instituir o Grande Prêmio Capes de Teses para eleger as melhores teses de doutorado aprovadas nos cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação com nomes de grandes cientistas brasileiros. Para designar o nome do Grande Prêmio Capes, ao conjunto das grandes áreas de ciências humanas, ciências sociais aplicadas e linguística, letras e artes, o homenageado na primeira edição foi o sociólogo Florestan Fernandes. A cada ano, novos cientistas são escolhidos para dar nome aos títulos dos prêmios.
Em 2007, no XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Recife, na Universidade Federal de Pernambuco, entre os dias 29 de maio e 1º de junho, os professores Francisco de Oliveira (USP), José de Souza Martins (USP) e Neuma Aguiar (UFMG), pela relevante contribuição à pesquisa sociológica, receberam o Prêmio Florestan Fernandes, concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia.


Em 2009, no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado na cidade do Rio de Janeiro, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre os dias 28 e 31 de julho, a SBS durante a gestão do Prof. Tom Dwyer homenageou quatro sociólogos com o Prêmio Florestan Fernandes: o acadêmico Leôncio Martins Rodrigues, Professor Titular de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) desde 1981, hoje aposentado, reconhecido por suas pesquisas na área da Sociologia do Trabalho, especialmente o estudo do sindicalismo brasileiro; Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República; Silke Weber, professora emérita da UFPE e orientadora da pós-graduação em Sociologia, ex-secretária de Educação em Pernambuco (1987-1990 e 1995-1998); e Alice Rangel de Paiva Abreu, professora emérita da UFRJ e diretora do escritório regional do Conselho Internacional para Ciência (ICSU-LAC, na sigla em inglês), sediado na Academia Brasileira de Ciências. Na época, o Sindicato dos Sociólogos de SP emitiu nota de desagravo à premiação do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, pela SBS.
E, por fim, cumpre destacar que a importância e o significado de Florestan, expressos no reconhecimento a muitos dos intelectuais de diferentes gerações de sociólogos que contribuíram de forma expressiva para o progresso das Ciências Sociais no Brasil e na América Latina, também se inscreve nas práticas militantes e nos movimentos sociais. Há outro Florestan, além dos muros da universidade.
* Sérgio Sanandaj Mattos é sociólogo, professor, e ex-diretor da Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo (ASESP). É co-autor do livro Sociólogos & Sociologia. Histórias das suas entidades no Brasil e no mundo (ss.mattos@uol.com.br).

Referências
BARREIRA, César, (org.). A Sociologia no tempo: memória, imaginação e utopia, São Paulo: Editora Cortez, 2003.
CARVALHO, Lejeune Mato Grosso X. & MATTOS, Sergio Sanandaj. Sociólogos & Sociologia. História das suas entidades no Brasil e no mundo. Vol. I, São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 2005.
MATTOS, Sérgio Sanandaj. Origens da Sociedade Brasileira de Sociologia. Revista Sociologia Ciência&Vida, nº 22, p. 24-25. São Paulo: Editora Escala, 2009.
SANTOS, José Vicente Tavares dos & GUGLIANO, Alfredo Alejandro (organizadores). A Sociologia para o Século XXI, SBS, IX Congresso Brasileiro de Sociologia. Pelotas: Editora Educat, 1999.
LIEDKE FILHO, E. D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desa os. Sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, p. 376-437.
Sociólogos são agraciados com o prêmio Florestan Fernandes, 18/8/2009, Notícias, Academia Brasileira de Ciências. Disponível em http://www.abc.org. Acesso em 09 de janeiro de 2011.

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